quinta-feira, 28 de julho de 2011

Estado Laico? Presidenta: pare de meter sua opinião religiosa em politicas públicas anti-homofobia!

reproduzido de Mario Frô:

Acordo e leio o excelente post do Leonardo Sakamoto sobre a pesquisa do Ibope afirmando que 55% dos brasileiros são contra a união homoafetiva. Fico me perguntando sobre a utilidade dessa sondagem: será que ela serve para assustar o restante de pouquíssimos homens públicos que ainda não se esqueceu de que o Brasil (ao menos na teoria das leis) é um Estado Laico?

Vejo retrocessos no governo Dilma como a interferência descabida de uma presidenta no andamento de uma política educacional voltada para o respeito à diversidade levada a cabo pela SECAD/MEC. A presidenta, tal qual uma diretora de escola de classe média, pressionada por tevês fundamentalistas, por uma imprensa irresponsável e cínica que dá voz e vez aos homofóbicos (vendendo essa prática como’ liberdade de expressão’), pressionada por uma base fundamentalista de deputados indigentes no Congresso, refreia o processo de elaboração de material pedagógico ‘escola sem homofobia’, afirmando que não permitirá que o governo faça propaganda de ‘opção sexual’ nas escolas.

Vejo, inclusive, deputados e senadores (em teoria eleitos por uma legenda de ‘esquerda’) não apenas fazerem vídeos convocando, mas participando da Marcha para Jesus (megaevento transformado em uma manifestação contra a aprovação do PLC122) como vejo uma militância de esquerda que deveria cobrar compromissos com bandeiras históricas dos partidos, justificando tudo isso como parte de ‘recuos estratégicos’.

Imaginem se no grande embate que este país viveu nas últimas décadas do século XIX tivéssemos Ibope e eles resolvessem perguntar aos poucos cidadãos que tinham o efetivo exercício de cidadania se eram a favor ou contra a abolição da escravatura?

Enquanto eu pensava sobre o texto do Sakamoto, @micaelsilva repassa um link para uma chamada de entrevista da cantora Sandy.

Até a Sandy concorda que anal é coisa séria. http://bit.ly/qWgg6X


Lembrei no ato da bolinha de papel cujo primeiro tweet a respeito também me chegou via @micaelsilva e, de novo, soube que o assunto iria parar nos TTs. Tweetei:

5,4,3,2,1 para o cu da Sandy entrar na TL


E assim como no case bolinha de papel, em pouquíssimo tempo, o ânus da Sandy não apenas foi para os TTs Brasil como tomou o 1º lugar nos TT do Mundo.

Sandy desde que virou garota propaganda da Devassa, a marca de cerveja que adora uma campanha sexista, está repaginando sua imagem de menina doce, ingênua, pura, assexuada, para fêmea fatal e parece ter sucesso no seu intento. Como o ‘Brasil real’, aquele responsável pela maior nação de proctologistas do mundo – fiscais do fiofó alheio -, ao menos por enquanto, vem ganhando adeptos de todas as colorações partidárias, tudo em nome dos votos, dos ‘recuos estratégicos’… Graças a uma fixação anal que nem Freud explica, a promessa de construção de um verdadeiro Estado laico está indo para o saco.

Quanto ao ânus da Sandy e o restante de seu corpo ela faça o que bem entender com ele, é dela e ela tem todo o direito sobre ele. Aos demais 55% do ‘Brasil real’ e aos que por falta de coragem abandonaram a defesa de um Estado Laico, recorro à máxima do meu querido amigo, o ator Bemvindo Sequeira: “vão dar meia hora de rabo”.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Estudantes querem expulsar aluno racista da UFRGS

Desde o início do ano letivo, o estudante de História José Francisco Alff vem defendendo teorias raciais eugênicas, que beiram o nazismo, dentro das salas de aula da UFRGS. Essa postura vem revoltando a comunidade acadêmica, em especial os estudantes, que estão organizando uma série de iniciativas que exigem a expulsão imediata de Alff da Universidade, além de processos externos, que se deram devido às ameaças feitas pelo mesmo a professores do curso e estudantes do CHIST (Centro de Estudantes de História).


Em resposta às agressões racistas

Vera Rosane de Oliveira

É extremamente revoltante, em pleno século XXI, vermos “teorias eugênicas” terem veiculação em espaços produtores de opinião pública, seja na academia (UFRGS) ou em veículos de comunicação de massas. Ao dizer isto, não falo de um lugar monolítico ou em detrimento ao legítimo direito de liberdade de expressão, mas me refiro à defesa patética da concepção de “boa raça”, como sugere a eugenia ao se utilizar de termos como hibridismo e de genocídio racial, expresso por este aluno de 50 anos do curso de história da UFRGS que está causando, com propriedade, repúdio e revolta de seus colegas. Antes de tudo, enfatizo e faço questão de salientar a idade do aluno, para que não venhamos a recair no equívoco de pensar que se trata de um jovem adolescente desinformado. As expressões por ele utilizadas tem um peso histórico para toda e qualquer sociedade.

A expressão Hibridismo nos remete a ideologias racistas como as utilizadas no início do século por cientistas sociais da época; por exemplo, o médico e sociólogo Nina Rodrigues (1862-1906), que ficou famoso especialmente devido às suas teses que defendiam a radical divisão da sociedade entre raças superiores e inferiores, e a ideia de que a miscigenação racial era um dos fatores que não permitiria que o país se desenvolvesse, apresentando “argumentos” como os seguintes [1]:

“A raça negra no Brasil, por maiores que tenham sido os seus incontestes serviços à nossa civilização, por mais justificadas que sejam as simpatias de que a cercou o revoltante abuso da escravidão (...) há de constituir sempre um dos fatores da nossa inferioridade como povo”.

“A constituição orgânica do negro, modelado pelo habitat físico e moral em que se desenvolveu, não comporta uma adaptação à civilização das raças superiores, produtos de meios físicos e culturais diferentes”.


Ou mesmo o historiador Silvio Romero (1851-1914), o qual, inclusive, escreveu o prefácio de Africanos no Brasil, afirmando que “o negro não é só uma máquina econômica; ele é antes de tudo, e malgrado sua ignorância, um objeto de sciencia”.

Assim percebemos que chamar negros e mulatos de híbridos é antes de mais nada um desrespeito, pois não se trata apenas de fazer alusão a um termo científico entre dois organismos vivos. Ao lermos no dicionário de Relações Étnicas e Raciais o termo híbrido vemos que ele desenvolveu-se a partir de origens biológicas e botânicas, contudo, tornou-se um termo-chave na crítica cultural contemporânea. Se formos à etimologia da palavra, no latim hybrida significa originalmente o cruzamento de uma porca mansa com um javali selvagem... É a isto que este aluno respeitosamente denomina os “pardos, mulatos”? Isto é científico ou racista?

Outro elemento que me deixa perplexa é a comparação que senhor Alff faz da relação interracial ou a miscigenação com o genocídio. Dei-me o trabalho de mais uma vez voltar ao dicionário de Relações Étnico-Raciais e buscar saber a origem e significado do termo genocídio, pois cheguei a pensar que este aluno talvez desejasse falar dos 150 jovens negros que morrem assassinados a cada dia em nosso país, como diz o documentário Falcão: Meninos do tráfico. No entanto, ao ver que a etimologia do termo combina do grego a palavra genos (grupo, tribo) com latim cide (matar) e que, em 1944, o jurista Raphael Lemkin buscou consubstanciar as práticas e políticas de extermínios das nações e grupos étnicos, utilizados pelo Terceiro Reich, como genocídio [...] e ainda que, o genocídio é considerado crime perante as leis internacionais, condenadas pelo mundo civilizado e cujos autores e cúmplices são passíveis de punição; realmente, não consigo aceitar que um ser racional consiga dizer que “o interracialismo é uma forma de genocídio, ainda que involuntariamente”, a menos que se esteja perante alguém que realmente acredite que existam raças/pessoas superiores ou inferiores.

Não se trata aqui de uma defesa desenfreada pelas cotas em um momento ímpar vivido pela sociedade brasileira pós-declarações racistas e homofóbicas do “Senhor Deputado” Bossonaro ou mesmo posterior aprovação do malfadado Estatuto da Igualdade Racial, que retira do corpo do texto aprovado a obrigatoriedade das cotas e de todo e qualquer termo que faça o país lembrar sua herança escravocrata e racista. Como se ao não estar escrito ninguém saberá ou lembrará que a Sociedade Brasileira se constituiu através da herança escravocrata e que o racismo é uma prática e realidade no Brasil e no Mundo.

Antes de tudo, trata-se de dizer em alto e bom tom que a luta e resistência dos negros e negras em nosso país não se refreará diante dos racistas de plantão, sejam eles governantes, deputados, alunos, teóricos ou cientificistas, pois como diz o poema de Bertolt Brecht – “De quem depende que a opressão prossiga? De nós, De quem depende que ela acabe? Também de nós.”

Vera Rosane de Oliveira é servidora da Universidade Federal do Rio Grade do Sul (UFRGS) e militante do Quilombo Raça e Classe da CSP-Conlutas