segunda-feira, 12 de abril de 2010




Minha tia, a socióloga Iole Kunze fazia parte da comunidade do Bairro Ipanema desde 1985, quando sua família veio do Menino Deus para instalar-se aqui.


Ela nos deixou às 18 horas da sexta-feira da Paixão, vítima de um câncer recém descoberto. Mas permanece na lembrança de todos nós como uma mulher guerreira, que lutou pela comunidade até o último momento de seus 57 anos de vida.


Iole foi eleita vereadora de Porto Alegre em 1986, com votação por toda a cidade, mas principalmente dos moradores da zona sul. Porque foi aqui que ela se empenhou na luta comunitária, participando de todos os fóruns de discussão e de todas as campanhas possíveis de se participar, sempre buscando ajudar a comunidade nas suas necessidades. Foi delegada do Orçamento Participativo da regional sul desde 1992 e presidente da Associação de Moradores do Bairro Ipanema, a AMBI. Muitas das conquistas da zona sul se devem aos esforços da Iole, que foi também conselheira do OP na temática de Circulação e Transportes da cidade, onde buscou a melhoria do transporte na nossa região.


As limitações que a cadeira de rodas impunha a sua locomoção, após acidente que a deixou paraplégica aos vinte anos de idade, não impediram que a Iole se dedicasse incansavelmente aos seus deveres de cidadã.

Ela foi exemplo de superação, força e garra para aqueles que tiveram o privilégio de conviver com ela seja na família, no seu círculo de amizades, no meio profissional, na militância comunitária e partidária.


Com sua disposição ilimitada e um largo sorriso, Iole conseguia reunir pessoas das mais diversas opiniões em torno de um objetivo comum, e esse era apenas um detalhe da sua personalidade marcante. Era intransigente quando necessário, mas sabia respeitar diferenças e primava pela decisão coletiva e democrática em tudo que se empenhava. Preocupada prioritariamente com o bem-estar da comunidade em que vivia, muitas vezes a Iole deixou de lado o cansaço físico e as questões particulares e familiares para participar de tudo e ser protagonista, junto com os comunitários, desta que é uma eterna luta por melhores condições de vida na nossa região e em toda a cidade.


Em reportagem do Fantástico do dia 28 de março, Porto Alegre destacou-se como a capital brasileira com maior acessibilidade aos deficientes físicos, e nisso, sabemos, há o “dedo” da Iole.


Ela lutou por uma cidade acessível, deixando como herança, por exemplo, o empenho pela implantação dos ônibus adaptados, que hoje são exemplo no país.

Durante o governo Olívio Dutra no Estado, Iole foi diretora técnica da Fundação de Apoio ao Deficiente e ao Superdotado, a Faders. Em sua gestão, conseguiu mudar o perfil assistencialista da Fundação e a transformou em um órgão de produção de políticas públicas para os portadores de deficiência, outra herança nunca esquecida por aqueles que lá trabalham e as famílias que a Faders atende em todo o estado do Rio Grande do Sul.


Dizem que a vida está completa se tivermos um filho, plantarmos uma árvore e escrevermos um livro. A Iole plantou muitas árvores e escreveu um livro. Não teve filhos, mas deixou órfãos seus amigos, sobrinhas, companheiros de luta e a comunidade de Ipanema. Seu maior desejo era que todos permanecessem unidos em torno do ideal maior: uma cidade melhor para os trabalhadores e trabalhadoras que nela vivem e um futuro melhor pros seus filhos.

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