segunda-feira, 18 de abril de 2011

Saudosos da Ditadura tentam barrar novela do SBT


Acostumados a tirar do ar programas de televisão com um simples telefonema, a gorilada de 64 enfrenta, em tempos de democracia, dificuldades para manter encobertas as atrocidades cometidas pelos agentes da ditadura militar brasileira.
Depois de se insurgir contra a Comissão da Verdade, que vai passar a limpo as barbaridades do golpe de 64, a gorilada de pijama agora ataca a novela do SBT “Amor e Revolução”, de Tiago Santiago, que vai ao ar durante diariamente, com a repetição dos capítulos nos sábados. A novela, ambientada nas décadas de 60 e 70 mostra, com imagens fortes, como agia a ditadura contra aqueles que ousavam enfrentá-la.
Através de mais uma de suas decrépitas entidades, a Associação Beneficente dos Militares Inativos e Graduados da Aeronáutica – ABMIGAER, os militares tentam barrar a exibição da novela. E, não dispondo mais das facilidades para calar vozes como no tempo da ditadura, a arma agora é um inofensivo abaixo-assinado dirigido ao Ministério Público Federal, pedindo a retirada da novela do ar.
Ao final de cada capítulo são apresentados depoimentos de pessoas que vivenciaram a ditadura. Segundo a produtora da novela, Bruna Mathias, a oportunidade de falar foi dada aos dois lados, mas por enquanto apenas dois defensores da ditadura resolveram gravar depoimento. Por outro lado, a produção já conta com 70 depoimentos de pessoas que foram perseguidas e torturadas pelos gorilas.
A resistência é injustificada, pois a cada dia que passa avançam as iniciativas para que sejam trazidos à luz e identificados os responsáveis pelos fatos envolvendo o desaparecimento e a tortura de centenas de pessoas que lutaram contra o golpe e a ditadura que se lhe seguiu.
Mas, mesmo tentando – porquanto obrigados –, a utilizar os instrumentos do Estado Democrático de Direito para a consecução do seu ridículo intento, não esquecem os métodos truculentos com que agiam habitualmente, como deixa claro o coronel Gélio Fregapani, ex-integrante do SNI e saudoso da ditadura, ao criticar a iniciativa da ABMIGAER: “A forma do Exército se manifestar nunca foi fazendo abaixo-assinado, e sim colocando os tenentes na rua, e isso não seria o caso.”
Declarações como esta hoje soam risíveis e inofensivas, mas para os parentes dos cerca 400 mortos e desaparecidos que aguardam há décadas que o Estado Brasileiro preste conta dos atos praticados pela ditadura de 64, isto é coisa séria, porque mesmo não havendo, atualmente, as mínimas condições para um movimento semelhante ao que rasgou a Constituição de 1946 e extirpou a democracia no Brasil por 21 anos, o fato é que até agora, passados já 21 anos do fim da ditadura, a verdade continua encoberta, significando que os defensores da ditadura ainda tem mais poder do que estes inócuos arroubos de velhinhos de pijama deixam transparecer. Mas, esperamos todos, que seja por pouco tempo.


Retirado do sítio: http://armarinhodapolitica.blogspot.com/2011/04/gorilas-de-pijama-tem-medo-de-novela-do.html

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Revolução tunisiana visita o Brasil




Ontem(14), a cidade de Porto Alegre recebeu a visita de um importante dirigente da revolução em curso na Tunísia, Amami Nizar. Tal visita, em busca de apoio internacional para as lutas em seu país pela democracia, foi possibilitada pelos camaradas da direção do PSOL, através da ida do dirigente da Secretaria de Relações Internacionais do PSOL, Pedro Fuentes, até Tunísia a poucos meses.

Amami Nizar participou em POA das assembléias do sindicato dos correios e dos muncipários de, e no fim da tarde, esteve na Câmara de Vereadores dando uma entrevista coletiva para veículos de mídia alternativa, e após apresentou uma rica palestra sobre a situação atual da revolução, no Plenário Ana Terra.

Amami ressaltou aquilo que muitos de nós, que não nos limitamos as informações oferecidas pela grande mídia, já sabiamos: O processo em curso é expontâneo, laico, e busca mudanças profundas nas vidas das pessoas em relação a emprego, liberdade de expressão e participação, além do fim das desigualdades regionais, da corrupção, da repressão, e do sionismo.

Antes mesmo do início das grande revoltas que derrubaram o ditador Ben Ali, que a mais de 30 anos estava no poder, desde a independência do país, o povo reivindicava o fim das privatizações, fim dos trabalhos precários, melhoras nas aposentadorias, aumento de salários, e etc.
Quando as revoltas começaram existiam 130 mil jovens desempregados no país. Assim, existiam focos isolados de luta em diversas partes da Tunísia, encabeçados principalmente pelos jovens.

Os partidos políticos existiam, e tinham certa legalidade, mas de acordo com as leis eles não podiam reunir-se, então os sindicatos eram a representação maior e mais forte das lutas pela democracia desde os anos 20, muitos hoje ligados á UGTT ( União Geral dos Trabalhadores Tunisianos), da qual nosso visitante Amami Nizar faz parte, representando o Sindicato dos Correios e Telecomunicações. Existe também um grupo de mulheres tunisianas ativo que mantinha a luta feminista lá durante o regime.

Durante as revoltas, a mídia ligada a ditadura, que hoje está nas mãos da burguesia local, espalhou calúnias nos meios de comunicação para evitar as manifestações, disendo que os revoltosos eram inimigos do povo, que eram militantes pró islâmismo, e inclusive atribuindo a eles a responsabilidade por atos terríveis, como por fogo em escolas, quando quem realmente os fazia eram militares ligados ao regime. Amami destacou a importância muito grande da utilização dos meios de comunicação alternativos para a organização das mobilizações, e a importância de a juventude ter usado de forma tão eficas mecanismos como Facebook e Twitter, que foram através de onde o mundo pode realmente ver o que se passava no país.

Durante as revoltas, os manifestantes organizaram assembléias de bairros, através das quais conseguiam mobilizar a população com rapidez, avisar quando aconteciam incurssões militares, e hoje essas assembléias são um mecanismo de discussão com a população.

As manifestações continuaram, ganharam força e adesão da população, e até mesmo setores do comérico e da pequena burgeusia pareceram simpáticos as pautas levantadas.
Após a queda do ditador, uma comissão ligada á burocracia estatal e a antigos presidentes se instalou no poder, juntamente á setores da burguesia local, e por isso as revoltas não pararam. A revolução continua em curso, e a população continua nas ruas lutando por mudanças.

Algumas conquistas foram citadas por Amami, como a lei que a comissão que organizará as eleições em junho aprovou, que institui a paridade nas listas de candidatos dos partidos de 50% de homens e 50% de mulheres, assim como a proporcionalidade na votação, punição de impossibilidade de participar da vida pública e política aos políticos ligados á Ben Ali por 23 anos, incluindo o próprio ditador, e a participação de uma comissão internacional que irá fiscalizar as eleições.

Amami ressalta que ainda á muito a se conquistar na Tunísia, e que a queda de Ben Ali foi só início desse período de mudanças. A Liga de Esquerda Operária, da qual Amami faz parte, que herda a cultura da Liga Comunista da 4° Internacional, está buscando nas experiências latinoamericanas, e nos governos bolivarianos, um exemplo para a construção da nova constituição tunisiana, e Amami disse que entende como muito importante a luta em defesa do povo Palestino, que o Brasil apoia, e a lei no Brasil da Ficha Limpa. (uma pena que aqui tenha ficado só no papel...quem sabe na Tunísia funcione...).

É preciso ainda mudar muitos pontos na constituição, modificar o sistema judiciário para garantir punição justa ao alto escalão de comando da ditadura, e mudar as relações com os países imperialistas que tentam intervir no processo, como EUA, França, entre outros.
Apesar disso, Amami é claro e sério quando afirma que o povo não vai parar de lutar, e não vai desistir.

TODO APOIO AO POVO ÁRABE!
A LUTA SOCIALISTA É INTERNACIONAL!

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Visita de dirigente da revolução Tunisiana visita POA


Antes do debate, ás 18h, acontecerá uma entrevista coletiva de blogueiros, ás 17:30, também na Câmara Municipal.
Para se inscrever e participar da entrevista, envie email para: gabitolotti@yahoo.com.br

terça-feira, 5 de abril de 2011

O que a falácia da ditabranda revela

Em um editorial publicado no dia 17 de fevereiro de 2009, o jornal Folha de S. Paulo utilizou a expressão “ditabranda” para se referir à ditadura que governou o Brasil entre 1964 e 1985. Na opinião do jornal, que apoiou o golpe militar de 1964 que derrubou o governo constitucional de João Goulart, a ditadura brasileira teria sido “mais branda” e “menos violenta” que outros regimes similares na América Latina.
Como já se sabe, a Folha não foi original na escolha do termo. Em setembro de 1983, o general Augusto Pinochet, em resposta às críticas dirigidas à ditadura militar chilena, afirmou: “Esta nunca foi uma ditadura, senhores, é uma dictablanda”. Mas o tema central aqui não diz respeito à originalidade. O uso do termo pelo jornal envolve uma falácia nada inocente. Uma falácia que revela muita coisa sobre as causas e consequências do golpe militar de 1964 e sobre o momento vivido pela América Latina.
É importante lembrar em que contexto o termo foi utilizado pela Folha. Intitulado “Limites a Chávez”, o editorial criticava o que considerava ser um “endurecimento do governo de Hugo Chávez na Venezuela”. A escolha da ditadura brasileira para fazer a comparação com o governo de Chávez revela, por um lado, a escassa inteligência do editorialista. Para o ponto que ele queria sustentar, tal comparação não era necessária e muito menos adequada. Tanto é que pouca gente lembra que o editorial era dirigido contra Chávez, mas todo mundo lembra da “ditabranda”.
A falta de inteligência, neste caso, parece andar de mãos dadas com uma falsa consciência culpada que tenta esconder e/ou justificar pecados do passado. Para a Folha, a ditadura brasileira foi uma “ditabranda” porque teria preservado “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”, o que não estaria ocorrendo na Venezuela. Mas essa falta de inteligência talvez seja apenas uma cortina de fumaça.
O editorial não menciona quais seriam as “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça” da ditadura militar brasileira, mas considera-as mais democráticas que o governo Chávez que, em uma década, realizou 15 eleições no país, incluindo aí um referendo revogatório que poderia ter custado o mandato ao presidente venezuelano. Ao fazer essa comparação e a escolha pela ditadura brasileira, a Folha está apenas atualizando as razões pelas quais apoiou, junto com a imensa maioria da imprensa brasileira, o golpe militar contra o governo constitucional de João Goulart.
Está dizendo, entre outras coisas, que, caso um determinado governo implementar um certo tipo de políticas, justifica-se interromper a democracia e adotar “formas controladas de disputa política e acesso à Justiça”. A escolha do termo “ditabranda”, portanto, não é acidental e tampouco um descuido. Trata-se de uma profissão de fé ideológica.
Há uma cortina de véus que tentam esconder o caráter intencional dessa escolha. Um desses véus apresenta-se sob a forma de uma falácia, a que afirma que a nossa ditadura não teria sido tão violenta quanto outras na América Latina. O núcleo duro dessa falácia consiste em dissociar a ditadura brasileira das ditaduras em outros países do continente e do contexto histórico da época, como se elas não mantivessem relação entre si, como se não integrassem um mesmo golpe desferido contra a democracia em toda a região.
O golpe militar de 1964 e a ditadura militar brasileira alimentaram política e materialmente uma série de outras ditaduras na América Latina. As democracias chilena e uruguaia caíram em 1973. A argentina em 1976. Os golpes foram se sucedendo na região, com o apoio político e logístico dos EUA e do Brasil. Documentos sobre a Operação Condor fornecem vastas evidências dessa relação.
Recordando. A Operação Condor é o nome dado à ação coordenada dos serviços de inteligência das ditaduras militares na América do Sul, iniciada em 1975, com o objetivo de prender, torturar e matar militantes de esquerda no Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia.
O pretexto era o argumento clássico da Guerra Fria: "deter o avanço do comunismo internacional". Auxiliados técnica, política e financeiramente por oficiais do Exército dos Estados Unidos, os militares sul-americanos passaram a agir de forma integrada, trocando informações sobre opositores considerados perigosos e executando ações de prisão e/ou extermínio. A operação deixou cerca de 30 mil mortos e desaparecidos na Argentina, entre 3 mil e 7 mil no Chile e mais de 200 no Uruguai, além de outros milhares de prisioneiros e torturados em todo o continente.
Na contabilidade macabra de mortos e desaparecidos, o Brasil registrou um número menor de vítimas durante a ditadura militar, comparado com o que aconteceu nos outros países da região. No entanto, documento secretos divulgados recentemente no Paraguai e nos EUA mostraram que os militares brasileiros tiveram participação ativa na organização da repressão em outros países, como, por exemplo, na montagem do serviço secreto chileno, a Dina. Esses documentos mostram que oficiais do hoje extinto Serviço Nacional de Informações (SNI) ministraram cursos de técnicas de interrogatório e tortura para militares chilenos.
Em uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo (30/12/2007), o general Agnaldo Del Nero Augusto admitiu que o Exército brasileiro prendeu militantes montoneros e de outras organizações de esquerda latino-americanas e os entregou aos militares argentinos. “A gente não matava. Prendia e entregava. Não há crime nisso”, justificou na época o general. Humildade dele. Além de prender e entregar, os militares brasileiros também torturavam e treinavam oficiais de outros países a torturar. Em um dos documentos divulgados no Paraguai, um militar brasileiro diz a Pinochet para enviar pessoas para se formarem em repressão no Brasil, em um centro de tortura localizado em Manaus.
Durante a ditadura, o Brasil sustentou política e materialmente governos que torturaram e assassinaram milhares de pessoas. Esconder essa conexão é fundamental para a Folha afirmar a suposta existência de uma “ditabranda” no Brasil. A ditadura brasileira não teve nada de branda. Ao contrário, ela foi um elemento articulador, política e logisticamente, de outros regimes autoritários alinhados com os EUA durante a guerra fria. O editorial da Folha faz eco às palavras do general Del Nero: “a gente só apoiava e financiava a ditadura; não há crime nisso”.
Não é coincidência, pois, que o mesmo jornal faça oposição ferrenha aos governos latino-americanos que, a partir do início dos anos 2000, levaram o continente para outros rumos. Governos eleitos no Brasil, na Venezuela, na Bolívia, na Argentina, no Paraguai e no Uruguai passam a ser alvos de uma sistemática oposição midiática que, muitas vezes, substitui a própria oposição partidária.
A Folha acha a ditadura branda porque, no fundo, subordina a continuidade e o avanço da democracia a seus interesses particulares e a uma agenda ideológica particular, a saber, a da sacralização do lucro e do mercado privado. Uma grande parcela do empresariado brasileiro achou o mesmo em 64 e apoiou o golpe. Querer diminuir ou relativizar a crueldade e o caráter criminoso do que aconteceu no Brasil naquele período tem um duplo objetivo: esconder e mascarar a responsabilidade pelas escolhas feitas, e lembrar que a lógica que embalou o golpe segue viva na sociedade, com um discurso remodelado, mas pronto entrar em ação, caso a democracia torne-se demasiadamente democrática.

Por Marco Aurélio Weissheimer, da Carta Maior