terça-feira, 21 de junho de 2011

Zero Hora tenta desorganizar o Movimento Estudantil

Reproduzo artigo do jornalista Alexandre haubrich, do site Jornalismo B.

No início deste ano, a presidenta recém empossada Dilma Rousseff foi muito criticada – inclusive aqui – por comparecer à festa de aniversário da Folha de S. Paulo, que tanto a atacou durante a campanha eleitoral. Na última semana, o mesmo problema se repetiu em outra esfera da política: o movimento estudantil.


Desde a década de 1990 o DCE da PUCRS é controlado pelo mesmo grupo político, e isso se arrasta com a conivência do Ministério Público e da Reitoria da universidade e sem nenhuma crítica por parte do Grupo RBS, que controla a comunicação no Rio Grande do Sul. Com o início de manifestações que parecem estar levando a um novo momento por lá, o jornal Zero Hora teve que fazer alguma cobertura, e a fez igualando os dois grupos: a máfia do DCE e os estudantes que lutam por democracia no Diretório. Esse tema foi tratado em um post do Jornalismo B na última semana. Pois no mesmo dia representantes dos manifestantes iam ao programa Conversas Cruzadas, da TVCOM (outra emissora do Grupo RBS), legitimar a atuação desse Grupo contra o próprio movimento estudantil combativo. Uma coisa meio mulher de malandro, que vai chorar a surra para o amigo do marido, aquele mesmo que segurou os braços dela enquanto o marido batia.


Pois o espancamento continuou. O apresentador do Conversas Cruzadas ajudou a desmontar os argumentos das opositoras ao DCE, e, no último domingo, mais um golpe: duas páginas de reportagem em Zero Hora sobre “a falência do movimento estudantil”. Já na contracapa do jornal, “Referência de luta em momentos cruciais da história do país, os grupos ligados a diretórios universitários reproduzem hoje algumas das piores práticas dos partidos, como visto ao longo da semana em tumultos na PUCRS”. Viram? A luta de centenas de estudantes da PUCRS em defesa de outros estudantes passados e futuros contra a continuidade dos quase 20 anos de ditadura estudantil é “tumulto” que “reproduz algumas das piores práticas dos partidos”.


Os dois textos das páginas 6 e 8 reduzem o movimento estudantil a uma eterna “briga por poder” apartada da sociedade, voltada apenas para interesses partidários. Os autores do manifesto anti-organização estudantil são Carlos André Moreira e Elton Werb. O título: “Movimento estudantil escorrega na baixaria”. O primeiro parágrafo: “Referência nas lutas sociais e políticas do país, o movimento estudantil foi notícia nos últimos meses por troca de acusações, episódios de violência e um festival de baixarias”.


Não vale a pena reproduzir mais trechos, mas o conjunto da reportagem demonstra um total desconhecimento e alienação frente à realidade do movimento estudantil. O caminho da matéria é a construção do descrédito sobre mais um espaço de participação política. Da mesma forma como ao longo de muitos anos a mídia dominante cria descrédito sobre a classe política como forma de afastar o povo das instâncias de decisão e participação, Zero Hora tenta colocar no mesmo saco pessoas e organizações que fazem do movimento estudantil uma forma de encher os bolsos e legitimar sua truculência e pessoas e organizações que fazem do movimento estudantil uma forma de luta política democrática legítima.


Sem aprofundar as contradições próprias da disputa política que, obviamente, estão presentes em um movimento político como o estudantil, a reportagem se mostra alienada e alienante. Fecha os olhos e tenta tapar os ouvidos do leitor. Torna raso um tema complexo e amplo, cria ou alimenta estereótipos e preconceitos, esvazia o conteúdo político da luta de milhares de estudantes espalhados por todo o país.


Em recente entrevista ao Jornalismo B, falando sobre a imagem que a mídia tenta criar do poder legislativo, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), disse algo que se aplica também a esse caso: “Eu tenho a opinião de que um setor grande dos meios de comunicação tem um forte projeto pra desqualificação do poder parlamentar e representativo. Quanto mais desqualificado for esse poder, melhor pra quem tem um outro poder”. Desqualificar todas as formas de atuação e organização política é uma forma inteligente e desonesta de manter sua hegemonia e a dominação das elites políticas e econômicas, que precisam ter o povo afastado das lutas sociais para manter sua prática opressiva e alienante.


* Nas fotos, dois momentos recentes do Movimento Estudantil gaúcho: a luta contra a máfia do DCE da PUCRS e a Marcha da Liberdade em Porto Alegre.


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Fotos: Carina Kunze

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