No início deste ano, a presidenta recém empossada Dilma Rousseff foi muito criticada – inclusive aqui – por comparecer à festa de aniversário da Folha de S. Paulo, que tanto a atacou durante a campanha eleitoral. Na última semana, o mesmo problema se repetiu em outra esfera da política: o movimento estudantil.
Desde a década de 1990 o DCE da PUCRS é controlado pelo mesmo grupo político, e isso se arrasta com a conivência do Ministério Público e da Reitoria da universidade e sem nenhuma crítica por parte do Grupo RBS, que controla a comunicação no Rio Grande do Sul. Com o início de manifestações que parecem estar levando a um novo momento por lá, o jornal Zero Hora teve que fazer alguma cobertura, e a fez igualando os dois grupos: a máfia do DCE e os estudantes que lutam por democracia no Diretório. Esse tema foi tratado em um post do Jornalismo B na última semana. Pois no mesmo dia representantes dos manifestantes iam ao programa Conversas Cruzadas, da TVCOM (outra emissora do Grupo RBS), legitimar a atuação desse Grupo contra o próprio movimento estudantil combativo. Uma coisa meio mulher de malandro, que vai chorar a surra para o amigo do marido, aquele mesmo que segurou os braços dela enquanto o marido batia.
Pois o espancamento continuou. O apresentador do Conversas Cruzadas ajudou a desmontar os argumentos das opositoras ao DCE, e, no último domingo, mais um golpe: duas páginas de reportagem
Os dois textos das páginas 6 e 8 reduzem o movimento estudantil a uma eterna “briga por poder” apartada da sociedade, voltada apenas para interesses partidários. Os autores do manifesto anti-organização estudantil são Carlos André Moreira e Elton Werb. O título: “Movimento estudantil escorrega na baixaria”. O primeiro parágrafo: “Referência nas lutas sociais e políticas do país, o movimento estudantil foi notícia nos últimos meses por troca de acusações, episódios de violência e um festival de baixarias”.
Não vale a pena reproduzir mais trechos, mas o conjunto da reportagem demonstra um total desconhecimento e alienação frente à realidade do movimento estudantil. O caminho da matéria é a construção do descrédito sobre mais um espaço de participação política. Da mesma forma como ao longo de muitos anos a mídia dominante cria descrédito sobre a classe política como forma de afastar o povo das instâncias de decisão e participação, Zero Hora tenta colocar no mesmo saco pessoas e organizações que fazem do movimento estudantil uma forma de encher os bolsos e legitimar sua truculência e pessoas e organizações que fazem do movimento estudantil uma forma de luta política democrática legítima.
Sem aprofundar as contradições próprias da disputa política que, obviamente, estão presentes em um movimento político como o estudantil, a reportagem se mostra alienada e alienante. Fecha os olhos e tenta tapar os ouvidos do leitor. Torna raso um tema complexo e amplo, cria ou alimenta estereótipos e preconceitos, esvazia o conteúdo político da luta de milhares de estudantes espalhados por todo o país.
Em recente entrevista ao Jornalismo B, falando sobre a imagem que a mídia tenta criar do poder legislativo, o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), disse algo que se aplica também a esse caso: “Eu tenho a opinião de que um setor grande dos meios de comunicação tem um forte projeto pra desqualificação do poder parlamentar e representativo. Quanto mais desqualificado for esse poder, melhor pra quem tem um outro poder”. Desqualificar todas as formas de atuação e organização política é uma forma inteligente e desonesta de manter sua hegemonia e a dominação das elites políticas e econômicas, que precisam ter o povo afastado das lutas sociais para manter sua prática opressiva e alienante.
Fotos: Carina Kunze
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